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terça-feira, 17 de maio de 2011

Há muito muito tempo, era o BOCCA uma Criança!

Bocca


Finalmente, uma nota máxima! O novo Bocca, diz Diogo Novais, merece as seis estrelas. Comida, ambiente e preço perfeito.

Como já explicámos a alguns proprietários de restaurantes que nos escrevem cartas de “amor”, as estrelas que aqui damos não têm nada que ver com o dinheiro que eles investiram nem com as boas intenções dos empregados.

Podiam ter gasto um milhão de euros em candeeiros e contratado monges franciscanos para servir à mesa que a nossa tolerância não amanteigava.

Porque não pode. Um crítico de restaurantes só escreve para os clientes e, tal como os clientes, só quer saber de bom ambiente, boa comida e bons preços. Tudo o resto é indiferente. Se muitos restaurantes de Lisboa entendessem isto podiam ser tão bons como este Bocca.

Mas antes de nos atirarmos aos elogios, é preciso começar por dizer que o Bocca não é secretamente dirigido por qualquer Ferran Adriá. As nossas seis estrelas poderiam indicar que é um restaurante de comida fora de série (porque é isso que diz a legenda), mas a verdade não é bem essa. Este restaurante tem comida muito boa – ou seja, devia ter cinco estrelas –, mas foi promovido à categoria superior graças aos preços e aos detalhes. Esses sim, fora de série.

Comecemos pelo maior de todos esses detalhes: o vinho. Qualquer tasco lisboeta já tem uma carta de vinhos com 35 páginas e 120 vinhos. Não faremos grande serviço, portanto, por enunciar as marcas que estão na lista. O que é realmente único neste sítio é a possibilidade de pedir vinho a copo. Não três ou quatro vinhos que alguns clientes deixaram abertos – como escandalosamente acontece em tanto sítios desta província –, mas quase todas as garrafas da lista, isto é, mais de 60 opções. Muitos restaurantes juram que fazem o mesmo, mas no momento da verdade sai um “essa garrafa é que não dá....” No Bocca testámos três vinhos, em três ocasiões diferentes, e foram todos abertos de propósito para servir apenas um copo. Melhor ainda, os empregados estão treinados para servir os brancos em duas fases, para que o vinho não aqueça no copo. Tão simples e tão bom.

Por falar em copos, entramos no segundo detalhe de luxo: nos copos Schott Zwiesel e já agora nos talheres da Cutipol. Duas marcas de luxo que têm catálogos enormes, mas que raramente estão bem representadas em cima das mesas da nossa cidade. A escolha, mais uma vez, foi irrepreensível. O mesmo se pode dizer em relação à decoração, que não sendo espampanante cumpre os mínimos obrigatórios de um sítio desta categoria. Consegue ser luminoso ao almoço e acolhedor ao jantar.

E ter uma sala de fumadores; e ter um bar confortável; e ter uma janela virada para a cozinha, como que a dizer ao cliente: “cozinhamos sem nada na manga”. Corajoso.

E depois vem a comida que começa no inevitável amuse-bouche. O “diverte-a-boca” – francesada traduzida à letra – é numa pequena entrada oferecida pelo chef, normalmente com sabor intenso e apresentação show-off. Tanto serve para ajudar o cozinheiro na sua tarefa mais óbvia – impressionar –, como para introduzir o cliente no paladar do que vai comer. Todos os que provámos – os tártaros de atum; o cappuccino de figo... – serviram ambas as funções.

No resto, tudo impressionou. O recheio fresco de ouriços do mar em cima do carpaccio de atum; o lombo também de atum (tão bem tratado na frigideira que vinha com aspecto de pequeno rosbife grelhado) com rebentos de soja temperados; as sanduíches gourmet servidas como prato completo; a massa de chá verde, muito simples mas bem combinada com legumes frescos; a original broa de milho crocante com lascas de bacalhau...

Comida de 5 estrelas promovida por um serviço exemplar e pelo facto, tão feliz, de haver vários pratos de 10 euros e um menu de almoço (entrada, prato, sobremesa) que custa 25 euros (à noite passa a 55, mas o menu cresce). Quase impensável numa cidade habituada a chular carteiras a troco de nada.

Manter os preços, manter a qualidade e manter os all-star verdes calçados nos pés dos empregados são condições de sucesso garantido.

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